Educar os filhos de forma rígida e autoritária pode torná-los mais depressivos e não garante nem que eles terão um melhor desempenho acadêmico.
Desde que a sino-americana Amy Chua lançou um livro sobre seu método de educação, conhecido como o jeito “mãe-tigre” de ser, mães e psicólogos discutem sobre a eficácia desse tipo de conduta. A rigidez das regras impostas aos filhos e a crítica constante ao seu desempenho são as características mais marcantes da mãe-tigre.
Não elogiar o filho em público, considerar 9 uma nota ruim e escolher todas as atividades que a criança deve fazer são alguns exemplos que a autora defende e colocou em prática na criação de suas duas filhas.
Agora, quase dois anos depois da publicação do livro Battle hymn of the tiger mother (Hino de batalha de uma mãe chinesa), uma das primeiras pesquisas a medir o quanto esse método contribui para a felicidade e o desempenho acadêmico das crianças é publicada na revista científica Asian American Journal of Physhology.
E os resultados mostram que tanta rigidez pode não fazer bem para a criança ela não necessariamente melhora suas notas e ainda pode se tornar um jovem mais deprimido.
Para chegar a essa conclusão, a pesquisadora Su Yeong Kim, da Universidade do Texas, reuniu dados de 444 famílias moradoras dos Estados Unidos, nas quais pelo menos um dos pais era de origem asiática. O objetivo do estudo era entender qual o perfil de educação dessas famílias e que efeitos isso tinha no perfil dos filhos adolescentes.
As famílias foram acompanhadas durante oito anos, e de tempos em tempos precisavam responder a um questionário sobre seu estilo de criar os filhos. Além disso, tinham que informar alguns dados sobre o desenvolvimento dos filhos, como a média escolar. Apesar de o estudo ter começado antes do lançamento do livro de Amy, no momento de analisar os dados a equipe de pesquisadores dividiu os pais em quatro tipos principais: apoiador, tigre, autoritário e descontraído.
A primeira conclusão que surpreendeu os responsáveis pelo estudo foi que o tipo tigre não era o mais comum entre as famílias. A maior parte dos pais adotava o estilo apoiador, também conhecido como democrático, que foi associado com os melhores índices de desenvolvimento das crianças. O jeito tigre, por outro lado, foi relacionado com uma média escolar mais baixa e menores níveis de escolaridade dos filhos, bem como um menor senso de obrigação familiar, mais sintomas depressivos e sentimento de alienação. Ou seja, o estudo contraria o senso comum ao apontar que os filhos de pais-tigre não têm necessariamente um melhor desempenho acadêmico ou são mais felizes.
Segundo a psicóloga Ana Lúcia Castello, esses resultados comprovam o que já se sabia. “Os pais-tigre são extremamente autoritários, e quando existe autoritarismo as crianças crescem inseguras. No fundo, durante a fase de desenvolvimento emocional, elas ficam dependentes das opiniões dos pais seja porque querem ou porque precisam agradá-los”, explica. Nesse ambiente, a criança também acaba tendo dificuldade de desenvolver sua autonomia.
Outro problema que os filhos de pais muito autoritários ou controladores enfrentam é a frustração. Isso porque esse tipo de educação nem sempre dá espaço para a criança ser o que quer e não raramente ela é forçada a praticar algo de que não gosta ou para a qual não tem vocação. “O autoritarismo é demodê.
Estamos no século 21, tentando partilhar uma educação mais democrática. Claro que muita permissividade também é um problema, mas é possível ensinar limites em vez de impor”, afirma Ana Lúcia.
No entanto, antes de jogar o livro de Amy na fogueira (e com ele todos os seus conselhos), também é necessário levar em conta as diferenças culturais entre orientais e ocidentais. A própria autora apontou essa questão em seu “manual”: “Pais ocidentais tentam respeitar a individualidade das crianças, encorajando-as a buscar suas paixões verdadeiras, apoiando suas escolhas e proporcionando reforços positivos e um ambiente estimulante. Em contraste, os chineses acreditam que a melhor forma de proteger seus filhos é preparando-os para o futuro, fazendo-os ver do que são capazes e armando-os com habilidades, hábitos de trabalho e confiança interna que ninguém jamais poderá tirar.” E você, o que acha sobre esse assunto?
5 coisas de Amy Chua que podem fazer você refletir
- Acredite no potencial do seu filho: Não desista quando ele fracassar na primeira tentativa. Para ela, os pais ocidentais cobram pouco dos filhos por medo de abalar sua autoestima e porque, secretamente, não conseguem lidar com o sentimento de decepção quando seus filhos não correspondem às suas expectativas.
- Se envolva mais nas atividades dele: A mãe tigre se dedica quase integralmente aos filhos, acompanhando todas as suas atividades e o desempenho em cada uma delas.
- Tenha convicções quanto à educação do seu filho: Apesar de ter feito uma escolha de modelo parental polêmica, Amy Chua é verdadeira e acredita plenamente no que está fazendo. Ela está segura, e, portanto, passa segurança para as filhas.
- Cobre mais disciplina: Para a mãe tigre, a prática repetida leva à excelência e por isso as crianças chinesas são tão boas em matemática e instrumentos musicais. Ela acredita que os pais ocidentais são muito tolerantes com relação ao treinamento.
- Sinta-se no direito de cobrar reconhecimento: para Amy, os filhos devem tudo aos pais, que se sacrificam e fazem de tudo por eles.