Se as explosões são agressivas, acontecem diariamente e sem motivo aparente podem ser um sinal de que a criança está “pedindo ajuda”.
Quem nunca viu um ataque de birra no meio do corredor de um supermercado? Aqueles em que a criança bate o pé, se joga no chão, chora, grita e esperneia? Apesar de nos deixar morrendo de vergonha, a birra faz parte do desenvolvimento infantil e acontece quando a criança ainda não tem maturidade suficiente para lidar com uma determinada frustração e acaba explodindo. Essa explosão vem em forma de choro incontrolável, gritos, aquela movimentação intensa difícil de conter.
Os ataques de birra sempre acontecem por um motivo e são dirigidos a alguém. Por exemplo, seu filho pode estar com sono, cansado ou querer um brinquedo que não vai ganhar e, então, explode, para testar o limite dos pais ou de quem está cuidando dele naquele momento. Mas agora a ciência resolveu olhar para o que pode estar por trás dos ataques que acontecem sem motivo aparente, ou seja, quando ele está brincando ali sozinho e, de repente, explode, sem se dirigir a ninguém.
Uma pesquisa realizada pela Escola de Medicina Feinberg, da Universidade Northwestern, em Chicago, nos Estados Unidos, com pais de 1.490 crianças de 3 a 5 anos, mostrou que, quando a birra acontece diariamente, de forma agressiva e sem motivo, ela pode esconder outros problemas. Para chegar a esse resultado, os pais responderam a um questionário com cinco perguntas sobre o comportamento de seus filhos no mês anterior.
De acordo com o relato dos participantes, 83,7% das crianças têm ataques de raiva ocasionalmente, sempre provocados por um motivo, ou seja, quando a criança se frustra ou está cansada como aquela situação que contamos no início desta reportagem. Mas 8,6% “explodem” diariamente e sem motivo e a birra dura mais de cinco minutos e de forma agressiva (com chutes, tentativas de agredir os pais, os irmãos e até a si mesma).
“Apesar de ser um estudo baseado apenas no comportamento das crianças no último mês, pude perceber, ao analisar os dados, que não é comum uma criança ter ataques de birra todos os dias, principalmente quando acontecem sem motivos e não são direcionados a uma pessoa, como o pai ou a babá”, disse, em nota, Lauren Wakschlag, principal autor do estudo e vice-presidente do departamento de medicina da Universidade. No entanto, o especialista destaca que é preciso cautela antes de definir o que é ou não normal no comportamento e desenvolvimento de uma criança.
Para a psicóloga infantil Patrícia Nakagawa, da Universidade Federal de São Paulo, certos comportamentos escondem outros problemas que podem estar causando sofrimento à criança. Pode ser uma crise de ansiedade causada pela mudança de casa, de escola, a morte de um parente querido ou de um animal de estimação, a separação dos pais e até mesmo a falta de diálogo em casa. Essa é uma forma de a criança pedir socorro. O melhor a fazer é procurar a ajuda de um profissional.