Estudo mostra que depressão e ansiedade estão entre as consequências.

Você já se pegou discutindo com seu companheiro na frente do seu filho? De que maneira esse conflito aconteceu? Pesquisadores norte-americanos acompanharam o desenvolvimento de crianças em 235 famílias durante sete anos para descobrir quais efeitos as brigas entre os pais teriam sobre elas. A conclusão foi a de que os filhos de casais que estão em constante “pé de guerra”, e brigam de forma agressiva, têm mais chance de serem emocionalmente inseguros quando adolescentes, enfrentando problemas como depressão e ansiedade.

O estudo foi publicado este mês no jornal acadêmico Child Development. Para chegar a essa conclusão, os cientistas primeiramente questionaram os pais sobre o nível de conflito quando os filhos estavam no jardim de infância. Os pesquisadores também geraram uma discussão entre eles para avaliar seu comportamento. Quando as crianças estavam na sétima série, elas é que foram entrevistadas. A insegurança emocional considerada pelos pesquisadores incluía reações como se sentir angustiado durante uma briga entre os pais.

Segundo a psicanalista Vera Blondina, do Centro de Referência da Infância e Adolescência da Unifesp, a maior probabilidade de uma briga causar prejuízos à criança é quando os pais manifestam violência, tanto física quanto psíquica. “Fazer o outro passar vergonha, colocá-lo em posição inferior ou usar nominações pejorativas como ‘burra’ é muito ruim. Essas situações presenciadas pelo filho fazem com que ele tenha receio de que vai perder um dos pais”, diz.

O outro lado da discussão

Sim! Pode parecer estranho para você, mas se a discussão for saudável, em que cada um expõe seu ponto de vista para chegar a um ponto em comum, sem agressões físicas ou ofensas dirigidas, ela pode agregar valores para a criança. Afinal, é no ambiente doméstico que ela aprende a se relacionar, a lidar com conflitos, frustrações e diferenças. “Os pais educam por meio do exemplo. Se a criança presencia uma discussão e depois vê os pais fazendo as pazes, se desculpando, ela entende que é normal ficar bravo e não concordar com outra pessoa, mas que é fundamental haver respeito”, afirma Rita Calegari, psicóloga infantil do Hospital São Camilo (SP).

É nesse momento também que a criança percebe que as relações humanas são permeadas por conflitos, mesmo entre pessoas que se amam. Isso elimina aquele estigma de que só briga quem se odeia.

Bom senso

Para que os desentendimentos entre você e seu marido não sejam prejudiciais para o seu filho é preciso maturidade. Nem tudo deve ser conversado na frente da criança. Há muitas questões que ela não é capaz de entender (como os pais discutindo o que vão fazer com um familiar que está doente e vai precisar de alguém para cuidar dele todos os dias), e isso vai deixá-la angustiada.

Outra atitude que deve ser evitada é incluir na discussão alguma situação que envolva a criança (como decidir se ela pode ou não comer sobremesa durante a semana). “Se o casal tem dúvida sobre alguma conduta, deve entrar em acordo longe dos filhos”, diz Carmen Lúcia Pinheiro, psicóloga, psicopedagoga e terapeuta de família e casal (RJ).

E lembre-se: Discussão é diferente de uma "guerra", que, se presenciada pela criança, pode gerar um sentimento de ansiedade e medo. Por isso, se perceber que o conflito chegou num nível em que você e seu marido perderam a capacidade de negociar, de entrar num acordo, é hora de ter um mediador entre vocês, seja um amigo, um parente ou um profissional.

 

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