Estudos mostram que excesso de elogios aumenta a insegurança em crianças com baixa autoestima. Saiba qual o jeito certo de reconhecer as boas atitudes da criança
Elogiar uma criança pode parecer uma boa maneira de incentivá-la frente a novos desafios. Mas como parte da educação de uma criança, tudo deve ser feito dentro de um limite. Novas pesquisas mostram que o excesso de elogios pode ter o efeito contrário e ser prejudicial para crianças com baixa autoestima.
A partir dos resultados de três estudos, pesquisadores das Universidades de Utrecht e de Amsterdam, na Holanda, e de Ohio, nos Estados Unidos, identificaram que os pais costumam exagerar nos elogios feitos aos filhos com baixa autoestima, provavelmente na tentativa de deixá-los mais confiantes.
Porém, em vez de ajudar, o excesso de elogios aumenta a pressão sobre a criança, que se vê constrangida a atingir altos padrões de qualidade e, com medo de falhar, pode acabar evitando desafios mais complexos. Os estudos também mostraram que em crianças com boa autoestima acontece o oposto: elas se desenvolvem bem quando muito elogiadas.
Para chegar a essas conclusões, o primeiro passo foi separar o que seria considerado um elogio comum e o que seria um elogio exagerado. A diferença está apenas na adição de algumas palavras, como “incrivelmente” e “perfeito”. Por exemplo, dizer “você é bom nisso” é considerado um elogio normal, enquanto dizer “você é incrivelmente bom nisso” é um elogio exagerado, para os parâmetros da pesquisa.
Um dos três trabalhos aferiu que crianças com baixa autoestima recebiam duas vezes mais elogios exagerados do que crianças com alta autoestima. Em outro experimento, 240 crianças reproduziram uma pintura de Van Gogh e foram avaliadas com elogios, elogios exagerados ou sem nenhum elogio. Em seguida, as crianças reproduziriam outros desenhos, a serem escolhidos por elas, e divididos em duas categorias: fáceis e difíceis.
Resultado: as crianças com baixa autoestima que haviam recebido elogio exagerado tendiam a escolher as figuras fáceis.
Como agir, então?
A psicóloga Rita Calegari, do Hospital São Camilo (SP), explica que o elogio é importante para a criança, e não apenas para aquelas que têm baixa autoestima, mas é fundamental que ele seja, de fato, merecido. Caso contrário, pode acabar desestimulando a criança e tornando-a acomodada.
“O elogio é uma recompensa social e os pais devem ser generosos na hora de elogiar, mas isso não significa que qualquer coisa que o filho faça seja boa. É preciso ter um parâmetro de julgamento coerente com a realidade”, afirma.
Vale lembrar que, cedo ou tarde, a criança vai entrar em idade escolar e passar a conviver não apenas com a opinião dos pais, mas também dos professores e amigos, que certamente não serão tão transigentes.
“Se os pais estabelecem um sistema de premiação fora da realidade, hipervalorizando a criança, ela vai sofrer um choque emocional quando for para a escola”, afirma a psicóloga. “Se em casa ela é superelogiada e na escola não, isso pode enfraquecer sua autoconfiança.” Por isso é importante encontrar um equilíbrio.
Para Rita, o elogio nada mais é do que um feedback, uma avaliação, e, deve vir acompanhado também de críticas construtivas quando necessário, para mostrar o que pode ser melhorado.
Foco nas ações
A especialista ressalta que os pais devem tomar cuidado para não cair no extremo oposto e parar de elogiar os filhos, passando apenas a cobrá-los. O elogio é saudável e, quando merecido, deve ser feito.
Uma dica é focar o elogio nas ações da criança, e não apenas em suas qualidades. Outra pesquisa, feita pelas universidades de Chicago e Stanford, nos Estados Unidos, concluiu que os pais que centram seus elogios nas ações ajudam a criança a se preparar para enfrentar os desafios no futuro.
Por isso, em vez de dizer apenas que a criança é inteligente, você pode parabenizá-la por ter estudado e passado numa prova. Isso vai motivá-la a repetir as boas ações e a ser mais proativa.