Apesar de pais e mães dedicarem quase o mesmo tempo do dia para pensar na família, sobre elas recaem mais preocupações, revela pesquisa
Enquanto seu marido vai para o trabalho e volta, você conseguiu, além de trabalhar, levar as crianças à escola, fazer supermercado, marcar a consulta com o pediatra, lavar roupa e arrumar a cozinha? Bem, com certeza no fim da noite suas energias estão esgotadas.
Mas parece que problemas na divisão de tarefas não causam apenas o desgaste físico. Um estudo realizado por uma socióloga israelense, com base em dados de um levantamento norte-americano, mostrou que as mães ficam muito mais preocupadas do que os pais quando estão fora de casa o que leva a um desgaste emocional.
Para chegar a essa conclusão, Shira Offer analisou o diário de 402 mulheres e 291 homens de famílias em que tanto o pai quanto a mãe trabalhavam fora. Ela registrou durante uma semana suas atividades, pensamentos e emoções. Shira descobriu que tanto os homens quanto as mulheres dedicam cerca de 30% de seu tempo de reflexão a questões familiares. No entanto, apenas para as mães esses pensamentos estão associados a estresse e emoções negativas.
“Eu esperava que a diferença de pensamentos entre os sexos, especialmente aqueles relacionados à família, fosse muito maior. Minha pesquisa mostrou que na verdade essa diferença tem muito mais a ver com qualidade do que com quantidade”, afirmou a autora em nota. Em sua opinião, as expectativas da sociedade obrigam as mães a assumir o papel de “gerentes do lar”, o que as faz cumprir tarefas menos prazerosas da vida em família. “Quando as mulheres pensam em família, elas pensam que precisam buscar o filho na creche ou marcar médico para a criança doente e têm maior probabilidade de ficarem preocupadas.”
Outra conclusão interessante da pesquisa foi que os homens passam menos tempo pensando no trabalho quando estão em casa. Entre os homens, 25% pensavam em assuntos relacionados ao trabalho fora do escritório, número que sobe para 34% entre as mulheres.
"Sabemos que é a mãe quem geralmente ajusta seus horários para atender às demandas da família, como ficar em casa cuidando de um filho doente. Consequentemente, elas podem sentir que não se dedicam o suficiente aos seus trabalhos e precisam correr atrás do prejuízo, ficando mais suscetíveis a se preocupar com assuntos de trabalho fora do escritório. Isso ilustra o duplo fardo que as mães trabalhadoras vivem a pressão para ser uma boa mãe e uma boa funcionária”, afirma Shira.
De acordo com a socióloga, para mudar essa situação, é necessário melhorar a divisão de tarefas, mas para isso não bastam apenas conversas entre os casais. “Esse incentivo deve ocorrer em nível federal, estadual e organizacional, tornando possível para os pais, por exemplo, deixar o trabalho mais cedo, entrar no trabalho mais tarde e fazer pausas durante o expediente para lidar com questões familiares. Se os pais forem capazes de fazer isso sem o medo de serem vistos como funcionários menos comprometidos, eles assumiriam mais responsabilidades em casa”, disse em nota.
Enquanto nossa legislação não muda, o jeito é mesmo sentar para conversar e cobrar que o seu companheiro cumpra as tarefas a ele destinadas. Segundo Denise Pará Diniz, coordenadora do Setor de Gerenciamento de Estresse e Qualidade de Vida da Unifesp, é fato que, quando o assunto é casa e família, a sociedade ainda cobra muito mais as mulheres. Além disso, às vezes elas mesmas colocam a responsabilidade sobre si. “Introjetamos valores que vêm da família e da sociedade e talvez por isso a mulher se preocupe mais com essas questões ela já é treinada desde criança para ser assim”, diz Denise.
A psicóloga afirma que uma das principais fontes de estresse do ser humano são os pensamentos, por isso o resultado da pesquisa é um alerta. “A gente vive dividida mesmo, principalmente quando tem criança pequena, que é mais dependente. Por isso, é importante administrar o seu tempo e se organizar fazendo o melhor que você pode dentro das suas condições sociais ou financeiras”. afirma. As grandes dicas de Denise são organização e escolhas feitas com cuidado. Por exemplo, na hora de definir em qual escola seu filho vai ficar, comece a procurar com antecedência, visite os locais, converse com as professoras, observe a dinâmica e divida suas opiniões com o pai ou outro responsável. Quando a escolha estiver feita, tenha certeza de que fez o melhor que pode e risque o problema da sua lista. Assim, você vai poder trabalhar tranquila sabendo que o seu filho está em boas mãos.