Dizem que mãe é tudo igual só muda o endereço. Você mesma jurou que seria diferente e, de repente, se vê adivinhando quando o bebê está com fome e colocando um casaquinho a mais só para garantir que ele não vai passar frio. O que está por trás dessas atitudes? Pode culpar a evolução!
Há quem diga que, quando uma mulher tem filho, consegue a proeza de estar mais perto do divino e também do instinto mais animal. É isso mesmo! Ela se torna excepcionalmente altruísta, devota e uma leoa feroz, disposta a proteger a cria com garras e o que mais for preciso. Isso acontece porque, nos primeiros três meses de vida da criança, a mãe é submetida a duas forças intensas: os hormônios femininos e o instinto de preservação da prole.
“No pós-parto, há um aumento na produção de hormônios que ajudam nas tarefas de cuidar e amamentar o bebê, trazendo transformações intensas ao corpo e ao comportamento”, diz o pediatra José Martins, professor emérito da Unicamp (SP). Essas mesmas substâncias promovem alterações cerebrais que dotam a mulher de capacidades extras. “A inteligência emocional é intensificada, tornando-a mais paciente, tolerante e perspicaz na tarefa de entender os sinais do bebê nas mais variadas situações”, explica a psicóloga Flávia Carnielli, da Maternidade Pro Matre (SP).
Como você pode ver, tudo é milimetricamente calculado para que os pais cumpram sua principal função diante da natureza: garantir a sobrevivência da espécie. Assim, a mãe se empenhará ao máximo em alimentar, proteger e agasalhar o seu bebê, como fazem outros mamíferos com seus filhotes. Mas de onde vem todo esse instinto? Para você compreender melhor esses meandros fascinantes da natureza, selecionamos comportamentos “inexplicáveis” da mãe em relação ao bebê.
Na certa, você vai se identificar com alguns ou muitos! e aprender a lidar com eles.
“Não consigo me concentrar quando meu bebê chora”
Por que acontece? O choro do bebê é como se fosse um sinal de alerta, avisando à mãe que ela está sendo solicitada imediatamente pelo filho. E o impulso de atendê-lo é quase irresistível, já que, nos primeiros meses do pós-parto, o organismo dela está inundado de ocitocina e prolactina, hormônios considerados do amor e da maternidade e que despertam o ímpeto protetor, como explica Fernando Gomes Pinto, neurologista do Hospital das Clínicas (SP). Portanto, enquanto esse som soar, não será possível que a mulher se concentre em mais nada antes de checar o que está acontecendo.
Como lidar: normalmente, a capacidade do bebê de prolongar um choro é maior do que a possibilidade de a mãe de deixá-lo chorando. Portanto, é natural e importante que você verifique o que está acontecendo, mas sem sobressaltos. O choro é uma das únicas formas que seu filho tem de se comunicar com você nos primeiros meses e ele pode acionar esse recurso por motivos nem tão graves, como uma cólica leve ou um pedido por mimo. A reação mais imediata é pegá-lo no colo, atitude comprovadamente acertada, segundo uma pesquisa japonesa realizada no Rinken Brain Science Institute.
Os cientistas acompanharam os batimentos cardíacos dos pequenos após o choro, depois de ir para o colo da mãe. Então, constataram que eles diminuem, causando uma sensação de tranquilidade e conforto.
Ainda assim, com o tempo, você vai entender o que cada tipo de pranto significa e poderá distinguir uma manha de uma necessidade real, adequando seu comportamento à situação.
“Quero agasalhá-lo a qualquer sinal de mudança de tempo”
Por que acontece? O instinto maternal está focado principalmente em três eixos: alimentar, proteger e agasalhar. Assim, querer defender o bebê do frio com mais uma mantinha, uma meia ou um casaquinho faz parte do “ser mãe”. Mesmo quando os filhos já estão grandes, elas não se cansam de perguntar: “Está levando um casaco?”.
Como lidar: em vez de seguir seu impulso, cheque primeiramente se mãos, pés e ponta do nariz do bebê estão gelados. Em caso negativo, segure sua vontade, e convença-se de que ele está bem. De qualquer forma, é importante saber que, normalmente, os bebês apresentam uma temperatura inferior à dos adultos, em cerca de dois graus. Assim, não é incoerente que você o proteja mais do frio do que faria com uma criança maior.
“Todo barulhinho que ele faz à noite, me acorda”
Por que acontece? No pós-parto, a mulher tem seus cinco sentidos acionados. “Essa habilidade permite que uma mãe escute o choro do bebê mesmo de longe, quando ninguém mais ouve”, comenta Flávia. A habilidade fica ainda mais aguçada durante à noite, considerada um período de maior “fragilidade da cria”, devido a uma memória ancestral que carregamos de que, dormindo, o bebê fica vulnerável. Diante de qualquer barulhinho, ela acorda assustada, receosa de que o filho esteja correndo “perigo”, mesmo que, na realidade, ele esteja só soluçando.
Como lidar: se você acordou, vale a pena verificar se seu filho está bem. Mas faça isso silenciosamente, sem necessariamente pegá-lo no colo. Aos poucos, você aprenderá quais barulhos requerem a presença de um dos pais e quais são ruídos normais que seu filho fará durante à noite.
“Parece que eu adivinho quando meu bebê está com fome ou vai acordar”
Por que acontece? Muitas mães brincam que ganharam o dom da vidência depois que o bebê nasce e que podem sentir as necessidades deles antes mesmo de se manifestarem. “Nos primeiros três meses de vida, é como se o recém-nascido ainda estivesse na barriga da mãe e eles se ‘comunicassem’, ainda que silenciosamente, quase que de maneira automática”, observa Hany Simon Junior, pediatra do Hospital Israelita Albert Einstein (SP).
Isso ocorre porque, após o parto, além do aguçamento dos cinco sentidos, a mulher também aciona o extrassensorial. Em um plano inconsciente, ela consegue captar informações, pistas, e chegar a conclusões acertadas sobre a necessidade do bebê sem que ele precise demonstrá-las.
Como lidar: essa superpercepção sobre o que a criança precisa é importante no primeiro trimestre, porque recém-nascidos são muito ineficientes na habilidade de se comunicar. Passados os meses iniciais, o bebê começa a aprender a sinalizar o que quer, facilitando a tarefa de cuidar dele, período no qual há um prenúncio de diálogo silencioso, em que a mãe conhecerá o filho por meio da observação de seu comportamento. É uma fase bonita na qual uma comunicação efetiva passa a se realizar, ainda que sem palavras.
“Tenho impressão de que meu filho se alimenta menos do que o necessário”
Por que acontece? O excesso de preocupação da mãe com o que o filho come é clássica. E sempre parece que ele não está suficientemente saciado. “Além do desejo de cuidar da prole, a cultura humana nos induz à seguinte associação: quanto mais gordinho e cheio de dobras o bebê for, melhor será a fêmea que o criou. Um filho bem alimentado valoriza essa mulher socialmente, ‘provando’ que ela é boa cuidadora e, portanto, uma parceira eficiente para o marido”, explica Alberto D’Auria, obstetra que estuda instintos e relacionamentos humanos.
Como lidar: por mais que dê medo achar que o filho está com fome, hoje sabemos que gordura não é sinal de saúde. Pesquisas, inclusive, indicam o contrário. Bebês acima do peso adequado para a idade têm mais chances de se tornar crianças obesas, com futuros problemas, como diabetes. “Se a cada consulta no pediatra for constatado um pequeno ganho de peso, já está muito bom. Não é preciso se preocupar”, diz D’Auria.
“É irresistível a vontade que eu tenho de apertar e beijar o meu filho”
Por que acontece? Esse é um golpe da natureza. Todos os filhotes de mamífero têm a capacidade de suscitar encantamento pelo tipo físico, pela sensação de fragilidade que transmitem e pelos gestos carismáticos. É mais uma “forcinha” para que as mães caiam de amores por seus filhos. E isso tem uma função prática. Bebês são altamente sensíveis ao toque e pesquisas indicam que o carinho físico faz o pequeno se sentir importante, protegido, acalentado e calmo, sendo essencial para seu crescimento físico e emocional.
Como lidar: inevitavelmente, o bebê será a sua prioridade ou mesmo seu único interesse real enquanto ele for bem pequeno. Aos poucos é preciso retomar seus outros papéis na vida. É importante que a mãe passe a se dedicar também à sua função de esposa, ao papel profissional e até ao social após o terceiro mês do bebê. Também é útil que ela volte a se cuidar e atender aos seus próprios desejos e não só aos dele. “Estudos comprovam que a criança é influenciada pela qualidade de vida da mãe. Se ela está feliz, o filho será contagiado e crescerá mais saudável”, constata Simon Junior.
“Me incomoda quando muita gente pega meu pequeno no colo”
Por que acontece? Mães têm uma imaginação bastante fértil quando se trata de riscos que o bebê pode correr. Em contato com muitas pessoas, ela pode concluir que será mais provável que o filho contraia um resfriado, se irrite com cheiros de perfume ou de cigarro ou se contamine com um vírus “camuflado” no organismo de quem o acalenta. Isso passa, muitas vezes até de forma inconsciente, pela cabeça da mulher, o que causa irritação e vontade de “arrancar” o bebê dos braços das pessoas.
Como lidar: reprimir o sentimento pode ser pedir demais à você, mas D’Auria mostra o lado positivo da situação. “Essa circunstância funciona como um treinamento imunológico. É importante que o bebê conviva com outras pessoas para que seu corpo crie anticorpos. E se ele está sendo amamentado, naturalmente já tem um sistema de defesa muito bom.”
“Fiquei mais sensível e, quando vejo qualquer bebê, me emociono”
Por que acontece? Novamente a culpa recai sobre a ocitocina, o tal hormônio do amor. E esse sentimento não se restringe apenas ao seu bebê, mas a qualquer outro, guardada as devidas proporções. É como se retomássemos uma memória de um longínquo passado, quando vivíamos em uma comunidade na qual as mulheres cuidavam das crianças, dos seus filhos e dos demais, enquanto outras faziam as tarefas complementares relacionadas à preservação do grupo.
Como lidar: a emotividade acentuada nessa fase é normal e necessária, porém, esse sentimento não precisa vir acompanhado de tristeza ou melancolia. Essas sensações, quando intensas e prolongadas, podem indicar uma depressão pós-parto. Cerca de 20% das mulheres sofrem do distúrbio, por isso, converse com o ginecologista para verificar se está tudo dentro do normal ou se há necessidade de acompanhamento médico.