Alguns pais colocam Mozart para tocar para seus filhos, na expectativa de que isso os torne mais inteligentes.
Outros impulsionam as crianças a fazer aulas aulas de piano ou violino. A música é comprovadamente benéfica ao desenvolvimento das crianças. Mas ter aulas de música não torna uma criança mais inteligente que as demais – não como fator isolado, ao menos.
Vários estudos ligam a aprendizagem musical com o aumento de QI, mas isso pode não ser verdade. Evidências que ligam a música com boas notas na escola podem ter outro significado, visto que essas crianças geralmente têm outros “privilégios” intelectuais, de acordo com o psicólogo Glenn Schellenberg, da Universidade de Toronto, no Canadá.
Crianças que têm acesso a aulas de música tendem a ter pais com maior nível de escolaridade, estudam em escolas melhores e fazem mais atividades extra-curriculares do que outras da mesma idade. A educação em geral, e não as aulas de música em si, ajudam as crianças a desenvolverem características que impulsionam seus processos mentais, como memória, aprendizagem e raciocínio.
Desvendando mitos
Desde que cientistas afirmaram que pessoas tiveram melhor desempenho em testes de habilidades espaciais depois de ouvirem Mozart, em um estudo feito na Universidade da Califórnia, em 1993, criou-se a ideia de que você pode ficar mais inteligente ouvindo música clássica. Mas Schellenberg afirma que o “efeito Mozart” é um mito.
O psicólogo afirma que depois de ouvir Mozart, muitas pessoas realmente se saem melhor em testes do que se quando ficam em um ambiente silencioso. “O desempenho é melhor porque a sensação da música em geral é agradável, mas o efeito tem pouco a ver com a música”, diz.
Em um novo estudo liderado por Schellenberg, pesquisadores perceberam que crianças que se interessam mais por aulas de música são previamente mais curiosas e abertas a experiências novas. Esses traços de personalidade ajudam a explicar porque elas tiram notas mais altas na escola e têm QI mais elevado.
“Muita pesquisas anteriores podem ter superestimado os efeitos das aulas de música e subestimado as diferenças pré-existentes entres as crianças que estudam música e as que não estudam”, explica o psicólogo. “As crianças que têm aulas de música podem ter níveis mais altos de curiosidade, motivação, persistência, concentração, atenção seletiva, autodisciplina e organização”.
Schellenberg reconhece que a presença da música na infância pode oferecer uma ligeira vantagem cognitiva, mas sugere que os pais não pressionem os filhos a aprenderem a tocar um instrumento apenas pelos possíveis benefícios à inteligência. Esse aprendizado é importante pelos conhecimentos que a criança irá desenvolver, além do prazer de tocar música, claro.
“Ninguém diz que você precisa estudar biologia porque aumenta a sua capacidade de leitura. Assim como todas as artes, a música é uma daquelas coisas que nos torna mais humanos. Vale a pena fazer música pelo valor dela própria”, diz Schellenberg.