Em novo estudo norte-americano, tanto pais quanto meninas afirmaram que fazer um esporte juntos é a principal lembrança da relação deles no passado
Toda menina gosta de ser a queridinha do pai. Não importa se ele chega em casa tarde e cansado, se quer dar um abraço suado depois do treino de futebol ou se ele, às vezes, fica bravo e dá uma bronca daquelas. E isso é ótimo. Vários estudos já mostraram os benefícios da relação entre pai e filha. Uma sintonia maior entre os dois está associada ao melhor desempenho acadêmico e profissional da garota, ao seu desenvolvimento psicológico e sexual e até mesmo a relação que ela terá com seu próprio corpo durante a adolescência e fase adulta.
Um novo estudo da Universidade de Baylor, no Texas, fez um levantamento inédito para entender como esse relacionamento se constrói, e os fatores que afastam e aproximam filhas e pais. Os pesquisadores Elizabeth Barrett e Mark Morman pediram para 43 pais entre 45 e 70 anos e 43 filhas com idades entre 22 a 58 anos (não relacionados entre si) responderem ao seguinte pedido: “Pensem por alguns minutos nos momentos da sua relação (com seu pai ou com sua filha) que afetaram sua proximidade. Descreva quais foram eles e por que ou como eles afetaram a relação de vocês”. Após analisar todas as respostas, os dois chegaram a uma lista (veja abaixo) com os 14 momentos que mais abalam a relação pai-filha, para o bem ou para o mal.
Os dois momentos mais citados foram iguais para os dois grupos: primeiro, participar juntos de alguma atividade e, segundo, o casamento da garota. No caso das atividades, a mais lembrada, tanto pelos pais quanto pelas filhas, foi praticar um esporte. As mulheres explicaram que o esporte lhes dava uma oportunidade de ser o centro das atenções dos pais e fazia com que elas se sentissem importantes. Um dos pais escreveu: “O esporte criou um laço entre nós que ela não tinha com a mãe ou com os irmãos. Era o nosso momento de estar juntos”. Outras atividades como trabalhar ou estudar juntos, cuidar da casa e viajar também foram citadas.
Segundo o psicobiólogo Ricardo Monezi, pesquisador do Instituto de Medicina Comportamental da Unifesp, o resultado do levantamento faz todo o sentido. Isso porque o vínculo da paternidade não é só uma questão social, mas também biológica, e se envolver em uma atividade comum só reforça esse vínculo. “Ao fazer uma atividade com o pai, a menina está vendo, tocando e sentindo seu cheiro. Eles estão fisicamente próximos, e estar com uma pessoa que você ama traz uma recompensa cerebral. Nesse momento, vários neurotransmissores atuam e reforçam a sensação de bem estar”. Essa proximidade física, ressalta Monezi, não é apenas um esbarrar no corredor da casa de vez em quando. Ela precisa ser um momento de convivência verdadeira. “Mesmo se ficarem juntos por pouco tempo, faça com que seja um tempo intenso”, diz.
Você já deve ter ouvido falar sobre “tempo de qualidade”. É mais ou menos isso que queremos dizer. Já dizia o ditado: não basta ser pai, tem que participar. Mais vale passar uma hora brincando com sua filha do que ficar um dia inteiro em casa na frente da televisão ou trabalhando no computador. Outra coisa que os pais precisam ter em mente é que precisam se despir dos preconceitos (de alguns, pelo menos). Se sua filha está pedindo há dias para você brincar com a boneca nova, se jogue. Se você sonha em vê-la jogando vôlei, mas ela só quer saber de karatê, apoie. E, de vez em quando, tudo bem insistir para ela acompanhá-lo em alguma coisa que você gosta muito– um jogo de futebol no estádio, por exemplo, ou preparar o almoço de domingo. “Ser pai hoje é um exercício intenso de transpessoalidade, ou seja, a gente não pode se fechar no nosso casulo e nos nossos preconceitos”, acredita Monezi, que é pai de Beatriz, 2 anos.
A proximidade é tão importante, que outro momento que interferiu na relação entre pai e filha, além das brincadeiras e do casamento citados no levantamento, foi a distância física, especialmente quando elas saíam de casa. Mesmo admitindo conversar por telefone ou email, especialmente os pais disseram sentir o peso da separação. Por isso, enquanto as crianças ainda são pequenas e pedem por atenção boa parte do tempo, aproveite para tirar algumas horas da semana e se dedicar a elas, de corpo e alma.