Rosto vermelho, mãos frias e testa quente: será que é febre? Entenda tudo sobre o sintoma que mais preocupa os pais, veja por que é preciso esperar um pouco antes de medicar o seu filho e as alternativas para amenizar o desconforto dele.
Não importa se é só um resfriado. Se a temperatura corporal do seu filho começa a subir, é impossível não se preocupar. A febre, de fato, é um dos principais motivos de consulta aos pediatras, tanto nos consultórios quanto nos pronto-socorros. O que muitos pais não sabem, no entanto, é que ela não é uma doença, e sim um sintoma de que algo está acontecendo no organismo. "A febre é um mecanismo fisiológico que tem o intuito de combater uma infecção", diz a pediatra Leda Amar de Aquino, presidente do Departamento Científico de Pediatria Ambulatorial da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Isso porque alguns agentes infecciosos, como vírus e bactérias, não sobrevivem a partir de 37ºC.
Em estudo recente, cientistas do departamento de imunologia do Instituto de Câncer Roswell Park, no estado de Nova York, nos Estados Unidos, observaram que a formação de um certo tipo de linfócito (célula sanguínea) capaz de destruir células infectadas e cancerígenas é intensificada por um aumento médio de temperatura. Já se sabe que micro-organismos que fazem mal ao ser humano não conseguem se duplicar tão bem quando estamos com febre, mas o trabalho sugere que o nosso sistema imunológico pode, inclusive, trabalhar melhor quando o corpo fica mais quente. Por isso, não se desepere quando o termômetro começar a subir. Na maioria das vezes, não é nada grave. Com isso em mente, mantenha a calma, o que vai passar mais segurança ao seu filho e evitar deixá-lo mais assustado. As seguir, as respostas para as dúvidas mais comuns quando o assunto é febre, como as causas, o tipo de tratamento e as alternativas além do antitérmico.
O que causa a febre?
A febre é sempre sintoma de uma infecção ou inflamação, por isso você tem toda razão ao ficar alerta. Mas nem sempre é grave. As causas mais comuns são infecções virais, como respiratórias, urinárias, otites, amigdalites e pneumonias. Na maioria das vezes, no entanto, trata-se de um sintoma benigno que vai embora espontaneamente. Você leu certo. Ela tende a desaparecer sozinha, sem a necessidade de medicação.
E quando é preciso dar remédio?
Por mais que dê vontade de medicar a criança assim que a testa dela começa a esquentar, saiba que, segundo os especialistas, só temperaturas acima de 37,8ºC são consideradas febre. Além disso, de acordo com a recomendação atual da Sociedade Brasileira de Pediatria, se seu filho for maior de 3 meses e estiver com menos de 38ºC e bem de maneira geral brincando, comendo e dormindo normalmente o ideal é apenas aliviar o mal-estar, com banho morno ou compressas de água morna na cabeça, virilha e axila a cada cinco minutos, por exemplo. Também tenha em mente que ele ficará com febre muito mais do que você. Afinal, na infância, a imunidade ainda não está totalmente desenvolvida e a criança fica mais suscetível à doenças. Após os 38ºC, pode haver medicação que tende a levar até uma hora para fazer efeito. Lembre-se de que as viroses duram, em geral, de um a dois dias. Então, nesse período, seu filho ainda vai apresentar o que os pediatras chamam de quadro febril. Até lá, a criança pode ficar com o rosto vermelho, respirar mais rápido do que o normal, sentir frio e mostrar-se um pouco abatida. As mãos e os pés também ficam gelados, pois os vasos sanguíneos das extremidades se contraem para elevar a temperatura do resto do corpo. Algumas podem, ainda, ter dores musculares e de cabeça.
Como aliviar o mal-estar?
Além do antitérmico que o pediatra recomendar, outras medidas importantes para amenizar o desconforto são manter a criança com roupas de acordo com a temperatura ambiente (ou seja, no verão, nada de agasalho), oferecer bastante líquido e também muito carinho. E nada de usar panos umedecidos com álcool, pois há risco de a criança inalar a substância que evaporar. Ofereça uma dieta leve, mas não precisa forçá-la a comer, já que pode vomitar com facilidade, e o mais importante, nesse caso, é mantê-la hidratada.
Nem todos os pais, porém, conseguem esperar. De acordo com um levantamento da Academia Americana de Pediatria feito no ano passado, 25% dos cuidadores administram antitérmicos mesmo que a temperatura da criança seja inferior a 37,8°C. Um dos motivos para isso é o medo de a febre causar convulsão. De fato, esse fenômeno pode, sim, acontecer entre crianças de até 4 anos, mas independe da temperatura delas (algumas vezes, acontece quando a febre está tão baixa que os pais ainda nem a perceberam). A boa notícia é que, além de ser rara, é preciso ter predisposição genética para haver uma convulsão febril. E o mais importante: ela não deixa sequelas. Ou seja, se você já ouviu aquela história de que febre pode matar neurônios, relaxe: é um mito.
Como medicar?
Os remédios usados para controlar a temperatura são os de efeito analgésico e antitérmico. No Brasil, os mais utilizados são o paracetamol, o ibuprofeno e a dipirona. Só o pediatra pode indicar a melhor opção para o seu filho, bem como a quantidade exata que você deve oferecer a ele, em mililitros, com uma seringa ou copo dosador. Se a medicação for em gotas, nunca pingue diretamente na boca da criança, pois há risco de intoxicação caso caia algumas a mais sem querer. "A dose vai variar conforme o princípio ativo e a apresentação do remédio (gotas ou comprimido, por exemplo), assim como o histórico de alergia da criança, se houver", explica a pediatra Tania Shimoda, do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Posso alternar os remédios?
Fazer rodízio de medicamentos, como o paracetamol e o ibuprofeno, é uma prática comum no entanto, nem todos os especialistas recomendam. Apesar de alguns estudos mostrarem que essa combinação pode ser mais eficaz para reduzir a temperatura, há um risco maior de intoxicação e alergia. "Pior ainda quando a mãe fica aflita e reduz o intervalo de seis horas entre os remédios", alerta a pediatra Leda, da SBP. Pense que até mesmo o paracetamol tem de ser administrado com cuidado, não é água com açúcar. Por isso, caso a febre não passe mesmo após a medicação ou volte cerca de duas horas depois do remédio, converse com o pediatra para saber se é o caso de aplicar outro medicamento.
Outro hábito bastante difundido é medicar a criança antes de dar uma vacina, como forma de prevenção, já que um dos possíveis efeitos colaterais é a febre. O perigo, nesse caso, é o antitérmico interferir na resposta imunológica à vacina. Por isso, mais uma vez, repetimos: paciência. Para começar, seu filho não vai ter febre toda vez que for vacinado (as vacinas acelulares, oferecidas em clínicas particulares, são as que apresentam menos reações, como inchaço no local e irritabilidade, além da febre). Já o aumento de temperatura por causa do nascimento de um dente é raro: o que pode acontecer é que, para aliviar a coceira, a criança coloque tudo na boca e aí se contamine.
Qual é a hora certa de procurar o pediatra?
Em algumas situações, o profissional tem de ser consultado imediatamente. É o caso de bebês com menos de 3 meses e temperatura superior a 37,8ºC, por exemplo. O mesmo vale para crianças de qualquer idade com febre acima de 39ºC ou com outros sintomas mais graves, como letargia, falta de ar, vômitos, diarreia, palidez e manchas na pele, independentemente do grau da febre. Por último, se ela durar mais de 48 horas, mesmo que a criança esteja bem, é necessário investigar. Se seu filho não se encaixar em nenhuma dessas situações, tenha calma. Provalvelmente, não é o caso de correr para o médico.
O termômetro ideal
Os pais mais experientes conseguem identificar a febre apenas colocando a palma da mão no rosto ou no tórax da criança. mas o termômetro ainda é a opção mais segura. conheça os mais usados:
Digital: nem sempre são precisos. É necessário aguardar, em média, um minuto para a medição da temperatura, que deve ser feita na axila. custa em torno de R$ 70. Timpânico: a temperatura é medida pelo ouvido e se mostra mais alta do que em outras regiões. isso deve ser levado em consideração pelo pediatra. a medição é rápida e precisa, mas o termômetro custa caro: R$ 500, em média.
Mercúrio: é o mais fiel. o problema é que, como é de vidro, pode se quebrar facilmente e a substância é tóxica. outro senão: você vai ter de esperar, no mínimo, três minutos antes de fazer a leitura correta. Use-o também na axila. custa, em média, R$ 30.
Febre ou hipertermia?
A febre é uma alteração da temperatura que faz parte do mecanismo de defesa do próprio organismo. A hipertermia também se caracteriza pela elevação da temperatura, mas as causas são externas. a mais comum é a exposição ao sol. Acontece, por exemplo, quando a família fica na praia fora do horário recomendado (antes das 10 e depois das 16 horas). Em geral, basta dar um banho morno na criança, oferecer bastante líquido e deixála em um ambiente arejado. Em último caso, dê o antitérmico de costume.