Estudo feito pelo Ibope com mais de 2 mil pessoas mostrou que levar as crianças ao pediatra e vacinar regularmente é mais importante do que dar afeto e viver em um ambiente seguro.
Na sua opinião, o que é mais importante para o desenvolvimento do seu filho? De acordo com uma pesquisa realizada pelo Ibope, em parceria com a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, com mais de 2 mil pessoas de 18 capitais brasileiras, o principal para 51% delas é cuidar da saúde, o que se traduz em levar ao pediatra e dar as vacinas regularmente.
O estudo foi apresentado durante um simpósio internacional sobre a primeira infância, que aconteceu em São Paulo. Para chegar a esse resultado, os pesquisadores perguntaram aos entrevistados O que é importante para o desenvolvimento da criança de 0 a 3 anos e ofereceram 15 opções, sendo que o participante poderia escolher três alternativas.
Em segundo lugar, apareceu a amamentação, com 45% dos votos. Cerca de 30% dos entrevistados também responderam que oferecer uma alimentação de boa qualidade é imprescindível, 19% acreditam que brincar é fundamental e a mesma porcentagem investe em um ambiente adequado, ou seja, seguro, limpo e com boa ventilação. Só 12% consideram importante para o desenvolvimento da criança receber carinho e afeto e 11% acreditam que proporcionar estímulos auditivos, visuais e táteis é fundamental.
“Com essa pesquisa, entre outros muitos aspectos, ficou claro que a importância do lado emocional e social para o desenvolvimento infantil precisa ser mais reforçada. Percebemos que existe uma valorização dos cuidados com a saúde física e isso é importante, mas é preciso que os pais e mães entendam que mente e corpo trabalham em conjunto”, diz o gerente de Avaliação da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal (FMCSV) Eduardo Marino, responsável pela estruturação e execução da pesquisa.
Para o neuropediatra Saul Cypel, consultor técnico do programa Primeira Infância da FMCSV, as famílias precisam entender que não adianta ter uma criança saudável fisicamente se ela não está bem estruturada emocionalmente, não sabe os seus limites, como lidar com os amigos, não sabe ganhar nem perder. E tudo isso se aprende por meio da brincadeira, da interação, do carinho.
Quando seu filho começa a aprender
Os participantes também responderam sobre quando a criança começa a aprender. Mais de 50% dos entrevistados acreditam que só a partir dos 6 meses, 25% responderam assim que nasce e 22% ainda no útero. E outras pesquisas já mostraram que ler, cantar e conversar com o bebê ainda na sua barriga é importante para o desenvolvimento intelectual dele. E, falando em aprendizado, 55% acredita que deixar as crianças assistirem a desenhos ou a programas infantis ajuda no desenvolvimento.
“Vale lembrar que ao deixar seu filho assistindo a programas de televisão, ele não interage com ninguém. Enquanto ouve um som da TV, ele não conversa, não brinca, não se movimenta. Já se sabe, inclusive, que o excesso de TV na primeira infância pode causar atrasos na fala e no desenvolvimento cerebral”, diz a psicóloga Quézia Bombonato, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia.
Isso não significa que você deve proibir seu filho de ver televisão. Como tudo na vida, é preciso encontrar um equilíbrio. Estipular horários para os desenhos, por exemplo, pode ser um caminho. A Academia Americana de Pediatria afirma que as crianças não devem passar mais do que duas horas diante da TV. E se você estiver junto, melhor. Assim dá para interagir, comentar, brincar, conversar e se divertir em família.
Sinais de um bom desenvolvimento
Sobre os sinais importantes de que o filho está se desenvolvendo bem, 47% consideram que o sentar é o principal deles. A mesma porcentagem considera fundamental quando o bebê responde a um chamado dos pais, por exemplo, e 30% responderam que o falar é um sinal fundamental. “O desenvolvimento faz parte de um conjunto de fatores. Os pais ficam muito atentos ao desenvolvimento físico e motor, mas esquecem do emocional e que tudo se complementa”, diz Cypel.
Mãe e trabalho
A pesquisa investigou ainda a relação entre a maternidade e o trabalho. 55% das entrevistadas não trabalham e 45% exercem algum tipo de trabalho remunerado. Entre as mães que trabalham, cerca de 55% gostaria de se dedicar somente aos filhos e sentem culpa.
Para a pesquisadora Clotilde Perez, professora das faculdades de comunicação da ECA-USP e da PUC-SP, que coordenou a pesquisa de Mães e Trabalho , o Estado tem de olhar para as mulheres, principalmente as de baixa renda que trabalham, para construir as políticas certas. “É preciso entender as necessidades delas. Muitas vezes, não é creche, é um horário ampliado, uma cuidadora, um espaço para amamentar, um horário flexível, uma negociação de horas com o empregador. Ajudar a mulher a se desamarrar do passado, fazer com que ela entenda que sem ‘deixar’ algumas coisas não conseguirá ter equilíbrio e vai sempre ser devedora”, completa.
O papel do pai
Sobre a importância da participação do pai na gestação e criação dos filhos, a pesquisa mostrou que, apesar de ser valorizada, ela ainda deixa muito a desejar. Apenas 41% afirmaram que o parceiro participa (ou participou) ativamente da gravidez e 50% das grávidas vão sozinhas às consultas. Na hora de impor limites aos filhos, para os entrevistados, apenas 43% assumem essa responsabilidade e 34% disseram que o pai é a principal pessoa que brinca com o filho.
Para Cypel, a presença do companheiro é importante para acolher a ansiedade da mulher, reforçar atitudes e sugerir mudanças. Já é possível perceber que ele está muito mais participativo. Muitas vezes, no entanto, ele não tem espaço para participar. “A mãe deve estimular, dar liberdade, deixar o pai cuidar do bebê do seu jeito. Isso é importante para a criança que vai aprender a diferenciar as figuras materna e paterna”, diz o especialista.