Além de todas as revoluções que ocorrem com a chegada de um bebê, é cada vez maior o número de mulheres que querem mudar também a vida profissional e investir em um negócio. Conheça histórias de mães que já fizeram isso.
Era uma vez uma nova mãe e seu bebê. E na hora da volta da licença-maternidade, essa mãe se pegou pensando em como seria bom se ela fosse dona dos próprios horários para estar mais perto do filho. Eis que ela decide deixar o emprego e investir em um negócio próprio. Essa história pareceu familiar? Pois é mesmo. Cada vez mais mulheres optam por uma alternativa que permita mais tempo livre com a família.
Nenhuma pesquisa ainda foi feita para mostrar esse movimento específico entre as micro e pequenas empresas no Brasil, mas não é difícil percebê-lo. O chamado “empreendedorismo materno” já conta com pelo menos três sites e blogs na internet que pretendem formar uma rede de apoio e contato para as mães que decidem mudar também essa parte da vida. Uma projeção do Sebrae-SP dá conta de que em 2020 a porcentagem de mulheres nos chamados empreendimentos de “conta própria” (que não têm empregados) deve chegar a 47%. O último levantamento, feito em 2000, apontava esse número em 32%.
À frente desses negócios estão mulheres como Alessandra Piu Sevzatian, 40 anos. A publicitária paulistana abriu mão de uma carreira sólida no mercado publicitário, no qual atuava há mais de 15 anos, para abrir seu próprio negócio, uma empresa que aluga brinquedos artesanais e sustentáveis, a Joanninha. A principal motivação de Alessandra atende por Mariana, sua filha, hoje com 5 anos. “Fiquei sete meses e meio de licença-maternidade. Mas quando esse período estava chegando ao fim, comecei a pensar se devia de fato voltar a trabalhar”, diz Alessandra.
A vontade de ficar em casa era grande, mas Alessandra decidiu retornar por um simples motivo: acostumada ao trabalho duro, não se via exercendo apenas a função de mãe. “Voltei, mas a vontade de empreender começou a aflorar”, afirma. Apaixonada pelo universo infantil, começou a sonhar com diferentes tipos de negócio voltados às crianças. “Cheguei a fazer uma pós-graduação em educação infantil, mesmo não tendo nada a ver com o meu campo de trabalho na época.”
Essa motivação de Alessandra é uma das coisas que diferem os homens das mulheres no mundo dos negócios: eles são movidos a inovação enquanto elas se sentem estimuladas por uma paixão, o que tem tudo a ver com a chegada de um filho. Essa tendência foi identificada em um estudo realizado pelo Endeavor, instituto com presença mundial que auxilia empreendedores, para a Unctad (Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento) em seis países, entre eles o Brasil.
Outro dado desse estudo demonstrou que as mulheres são menos propensas a riscos que os homens. E isso, nesse caso, pode ser um ponto positivo. “Os maiores erros que as pessoas, sejam homens, mulheres, com filhos ou não, cometem na hora de empreender é a falta de conhecimento prévio sobre o mercado e a precipitação”, explica o consultor do Sebrae-SP, Renato Fonseca de Andrade. Ele explica que da ideia até a abertura de um negócio costuma-se precisar de cerca de seis meses para estudar, conhecer e definir a melhor estratégia para seguir.
Erika Li, 40 anos, e mãe de Maria, 7, percebeu o erro ao avaliar mal seus primeiros sócios. Ela deixou as agências de publicidade para ser estilista de uma marca de roupas femininas com um casal de amigos, mas o relacionamento dos três não deu certo. Erika chegou a voltar a ser funcionária antes de tentar empreender de novo. “Perdi praticamente tudo em parte por inexperiência minha, que não pesquisei ou fui atrás de entidades que pudessem me ajudar nisso”, explica. Uma estimativa do Sebrae aponta que aproximadamente 50% das microempresas quebram após dois anos de sua fundação.
Em 2009, ela usou de novo a paixão pela costura e criou uma linha infantil, a Maria Lili, e outra feminina adulta, a Erika Li Ateliê, além de prestar consultoria de estilo. E não se arrepende de ter insistido. “Aprendi muito com o fracasso da sociedade. Hoje já estou investindo e aumentando minha equipe e produção.”
Além da paixão, as mulheres podem se valer de uma outra característica essencialmente feminina para se dar bem como microempresarias: a facilidade de estabelecer e administrar relacionamentos. Isso é necessário para você tirar melhor proveito de uma rede de contatos ampla e bem estruturada, que ajuda a formar bons fornecedores, colaboradores e clientes. “As mulheres são chamadas de multitarefas e isso é fácil de entender quando a vemos interagir na sociedade, já que os relacionamentos vão em todas as direções”, disse o pensador e cientista austríaco Fritjof.
A agora ex-advogada Laura Barbosa, 31 anos, mãe de Clara, 3, que o diga: começou a Laranjeira Kids comprando roupas infantis e revendendo para as amigas há um ano, e seis meses depois percebeu que tinha demanda para montar um site, alugar um espaço para o estoque e ter um sócio investidor. “E tudo começou porque eu queria mais tempo para ficar perto da minha filha.”
Claro que a mudança não tem só a parte boa. A maioria das pessoas que decidem investir em um negócio próprio precisam de muita dedicação, principalmente no início, e se for a única fonte de renda da família pode ser necessário apertar o orçamento. E será preciso também uma boa dose de autocontrole quando seu filho a vir em casa e pedir atenção. Ao contrário das mães que passam o dia fora, você tem de ser muito concentrada, definir bem quando é hora de fazer o quê e colocar limites claros para as crianças e toda a família. Laura, por exemplo, teve de abrir mão de algumas coisas que tinha quando era empregada. “Perdi minhas férias e alguns luxos, mas compensa almoçar em casa com minha filha todos os dias.” Afinal, é isso que importa quando são os filhos que motivam o empreendedorismo.