O neurologista e pesquisador brasileiro Marco Antônio Arruda conta sobre a relação da doença com baixo desempenho escolar e problemas emocionais. Saiba mais

Para você, dor de cabeça é coisa de adulto? Sim? Então, continue lendo esta reportagem. Dois novos estudos conduzidos pelo neurologista brasileiro Marco Antônio Arruda, especialista em crianças e adolescentes, mostraram que o número de crianças que sofre com o problema é maior do que você imagina e esse desconforto pode levar tanto a baixo desempenho escolar quanto a problemas emocionais.

O especialista coordenou um projeto chamado Atenção Brasil, com a participação de outros pesquisadores de várias universidades brasileiras, como a Universidade de São Paulo e Faculdade de Medicina de Rio Preto e estrangeiras, como Albert Einstein College of Medicine e Universidade de Roma. O objetivo era descobrir se o problema interfere no desempenho escolar das crianças. Então, foram entrevistadas 5.671 crianças entre 5 a 12 anos, de 87 cidades em 18 estados brasileiros. O resultado mostrou que 7,9% das crianças sofrem com enxaqueca. Usando como base os números do Censo de 2010, realizado pelo Índice Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é possível dizer que existem 2,1 milhões de crianças com enxaqueca no Brasil.

O resultado revelou ainda que 37,1% das crianças que sofrem com enxaqueca na forma crônica, ou seja, com dores durante 15 ou mais dias por mês nos últimos três meses, e 32,5% das crianças que sofrem com enxaqueca episódica, ou seja, que sofrem até 15 dias de dor de cabeça por mês, apresentam desempenho escolar abaixo da média. E apenas 23,2% das crianças que não sofrem com dores de cabeça têm dificuldade na escola.

De acordo com a análise das entrevistas pelos cientistas, as crianças com enxaqueca crônica têm 1,6 vezes mais chances de apresentarem baixo desempenho escolar em relação àquelas sem dor de cabeça. Já as que sofrem com o problema episódico têm 1,3 vezes mais chances comparadas com as crianças sem o problema. Também foi possível perceber que as que sofrem com enxaqueca faltam mais na aula. O estudo estima que três milhões de dias de aula sejam perdidos ao ano no Brasil por causa do problema.

“Resumindo, o estudo mostra que crianças com enxaqueca de alta frequência, crises de grande intensidade que fazem com que a criança se deite e pare de brincar, de longa duração (mais de 4 horas), com náuseas e que abusam de analgésicos (mais de dois remédios por semana) têm mais chances de apresentarem baixo desempenho escolar”, diz o neurologista Marco Antônio Arruda, da Sociedade Brasileira de Cefaleia e diretor da Clínica Glia, em Ribeirão Preto.

Enxaqueca e problemas emocionais

Outro estudo, também coordenado por Arruda e pelo neurologista Marcelo Bigal, da Faculdade de Medicina Albert Einstein, em Nova York, mostrou uma relação entre a enxaqueca e problemas emocionais. Para esse levantamento, foram avaliadas 1.856 crianças brasileiras entre 5 a 11 anos. A análise dos resultados mostrou que crianças com enxaqueca têm 5,8 vezes mais chances de apresentarem problemas comportamentais, como ansiedade, depressão e dificuldade de atenção.

“Nós também conseguimos descobrir que, quanto maior a frequência das crises, maiores serão as alterações psicológicas. Crianças com enxaqueca por mais de 10 dias por mês têm, além de sintomas de depressão e ansiedade, mais dificuldades em prestar atenção, menos habilidades sociais e mais dores pelo corpo”, alerta Arruda.

Como identificar o problema

Primeiro, é importante saber que a enxaqueca é determinada por fatores genéticos. Portanto, se um ou mais familiares sofrem com a dor, seu filho terá mais chances de ter o problema. E não confunda: a cefaleia (dor de cabeça) é apenas um sintoma, como a febre, por exemplo. Já a enxaqueca é uma doença caracterizada por crises recorrentes de dor de cabeça, com intervalos sem dor.

Fique atenta a alguns sinais importantes que podem sinalizar que o seu filho sofre com a enxaqueca. Nas crises, ele para de brincar, quer deitar, fica mais sensível à luz e ao barulho, fecha os olhos, tem náuseas e pode até vomitar. Outra característica do desconforto é quando a dor ocorre somente de um lado da cabeça da criança, lateja e piora com esforço físico. E não se esqueça: leve seu filho a um neurologista quando ele reclamar da dor pela primeira vez.

É possível prevenir?

Sim, ao evitar alguns fatores que podem desencadeá-lo, como alimentos (chocolate, derivados do leite e embutidos) ou odores fortes (de perfumes ou produtos de limpeza), além da privação de sono, excesso de luminosidade e até fatores emocionais e excesso de atividades extracurriculares. Se a enxaqueca já foi diagnosticada, é possível prevenir as crises com medicamentos que corrigem as alterações químicas cerebrais que causam o problema.

Como tratar

Alguns pais são resistentes ao tratamento com remédios por conta dos efeitos colaterais. Se esse é o seu caso, não se preocupe. Existem 15 medicamentos seguros para o tratamento da enxaqueca em crianças. Alguns são controlados, outros não. Não provocam efeitos colaterais graves. O tratamento preventivo deve ser feito durante seis meses, no mínimo e a garantia de eficácia é maior que 80%. Mas sempre com a recomendação do médico da criança.

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